domingo, 13 de junho de 2010

O Menino Que Tinha Medo de Nada

            Um garotinho destemido. Nunca havia demonstrado medo de uma coisa sequer. Quaisquer coisas que pudessem causar calafrios e assombros nos mais audazes, para ele eram simplesmente normais.
            As pessoas não se conformavam com isso. Não acreditavam nele. Vivam tentando lhe causar medo. Mas, tudo que faziam era completamente ignorado por ele. Provando sempre que coisa alguma lhe causava espanto.
            Certa vez um grupo de colegas dele teve uma ideia. Era um plano que não iria falhar. Conseguiriam fazê-lo temer.
            Pegaram-no e levaram-no para uma casa abandonada, dizendo que ele não teria coragem de entrar.
            - Essa casa foi de um casal. Tanto o marido quanto a mulher foram encontrados mortos. Disseram que foi suicídio. Mas, alguns dizem que eles venderam suas almas ao diabo. – diziam eles, tentando amedrontá-lo.
            Entretanto, o menino não acreditava naquelas coisas. Aliás, não acreditava em nada. Aquela casa era para ele uma simples construção em ruínas. Mas, isso não estragava o plano. Não queriam que ele ficasse intimidado de entrar na casa. Queriam sim que ele entrasse lá. E, ele entrou.
            Começaram a caminhar pela casa. O menino na frente e o grupo atrás dele. Percorreram toda a casa. O menino, calado, se aventurava por todos os cômodos. Deixaram o quarto por último. O quarto onde o casal havia sido encontrado morto.
            - Lá está o quarto. – disse um dos garotos do grupo.
            - Nem mesmo você teria coragem de entrar lá. – completou um segundo.
            Ele continuou andando em direção ao quarto e entrou.
            Pronto! O plano seguira perfeitamente. Assim que o destemido garotinho entrou sozinho no quarto os outros meninos correram, fecharam a porta e trancaram-na.
            - Só o deixaremos sair daí quando você estiver com medo. – disse um dos garotos.
            - Quando você gritar apavorado, implorando para que nós o tiremos daí, nós abriremos a porta. – completou um outro.
            Todavia, o que os garotos não sabiam era que ele tinha medo. Sempre tivera. Não das coisas “normais”, das de que todos tinham medo. Ele não temia cobras, lagartos, fantasmas, monstros, ou sequer a morte. Nada disso lhe causava qualquer desconforto. Contudo, havia uma coisa que lhe roubava o sono todas as noites. Temia a sua finitude. Não importava o fato de morrer. Temia apenas o fim da sua consciência. Se nada houvesse no fim, sua existência acabaria ali, como um monte de matéria inanimada. Tudo que vivera até ali teria sido em vão. Isso lhe assombrava. Era isso que lhe fazia revirar na cama à noite toda e alimentava seus pesadelos. Ele tinha medo do Nada.
            Mesmo assim ele continuou lá no quarto. Não disse uma única palavra. Não fez um único gesto que demonstrasse pavor.
            O grupo de colegas esperou, mas nada aconteceu. Eles saíram da casa, mas ficaram por perto. Talvez o fato de agora estar sozinho o fizesse gritar. Mas, ainda nada. Distraíram-se e começaram a brincar. Em pouco tempo nem se lembravam daquele menino preso no quarto.
            Ele ficara lá. Assombrado pelos seus próprios pensamentos. A cada segundo que passava ele sentia-se mais perto do fim. Passaram-se horas. Dias. O garoto continuava lá. Aos poucos suas vistas começaram a se escurecer. De repente - como num passe de mágica – ele deparou-se com o seu maior medo.

Fim

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