quarta-feira, 29 de maio de 2019

Despedida

Sem qualquer aviso e sem sinal
Veio como um golpe fulminante
Tão brevemente como um instante
O que era eterno se fez final

Numa forma tão vil e brutal
O que parecia tão distante
Logo transmutou-se em lancinante
Sofrimento nunca visto igual

De tua presença a despedida
Na insensível realidade
Da qual não se encontra uma saída

Degladio-me com a verdade
Não aceito, de tua partida,
Viver somente em saudade

Saudades

Vil é o tempo
Que impiedoso nos impõe a finitude
Do humano a vicissitude
"Do pó ao pó"

Ilusão do que outrora eterno
Num instante se fez efêmero
O existir na falta
Do temor à realidade

Conotativo manto
Do mítico ceifeiro
Encobre o que se sempre se fez presença
E agora sobrevive na lembrança

Das incertezas de um sono eterno,
Prometida salvação ou um mero não ser
Ampara-me a vã esperança
De estar fadado à sorte
De quem, por toda a vida,
Esteve errado sobre a morte

Vista Cansada

Com um olhar distante e profundo
Seus olhos fitavam o mundo
Suas pálpebras caídas
Carregando o peso da tristeza
De uma vida mal vivida
Adornadas pelas rugas
Que não eram muitas nem poucas
Mas que escreviam uma história única
De seus sessenta e poucos anos

No canto da boca, um sorriso amarelo
Buscando disfarçar sem sucesso
Uma esperança vazia
De viver, quem sabe,
Algum outro dia