segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Problemas Técnicos

Pessoal, peço desculpas pela não frequência nas postagens, mas a questão é que estou temporariamente sem poder acessar a internet de casa. Uso, às vezes, nas casas de amigos ou parentes para checar e-mails, etc. Tão logo eu consigo resolver os problemas com a conexão eu volto a postar.
Obrigado pela compreensão.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Selos

  


           Recebi este selo do Douglas, autor de um dos mais excelentes blogs que eu acompanho, o Sangue e Solídão. Fiquei honrado por ter recebido o selo, uma vez que veio de um dos bloggers dos quais eu mais admiro a escrita. E também da Isabela, autora do Alada e Colorida, que tem uma escrita excelente também. Agradeço!
        Aproveito e recomendo que leiam o Sangue e Solidão. Irão se deparar com uma escrita bela e profunda; os textos do Douglas são fantásticos! E também o Alada e Colorida. A escrita da Isabela tem um certo diferencial, seus textos em prosa tem um ar bastante poético. São belíssimos!

As regras do selo são:
1. Falar 10 coisas sobre mim;
2. Passar o selo para 10 blogs;
3. Avisar os blogs que ganharam o selo.

1. Eu sou fã de Machado de Assis (Ah, vá!);
2. Só consigo escrever quando estou triste, raramente me inspiro por outro motivo;
3. Sou estudante de Psicologia - essa ciência é minha vida;
4. Eu pratico artes marciais - sou viciado nisso; quando não treino eu me pego chutando o ar ou fazendo; movimentação de luta na frente do espelho; XD
5. Coleciono mangás;
6. Outro grande vício é cereal. (Sucrilhos, Snow Flakes, etc.)
7. Não bebo menos do que 2 L de Coca-Cola Zero por dia;
8. Não bebo bebidas alcoólicas e nem fumo;
9. Eu tenho muita dificuldade com essas brincadeiras de enumerar X coisas sobre mim;
10. Gosto do acaso e das coisas que desafiam as probabilidades.



10 blogs que indico para receber o selo:

1. Asas de Macaco, da Gabriela.
3. Motor Bombeante, da Raíssa.
5. Busilis, da Kênnia.
6. Psicologia Cognitiva, do meu ex-professor, Vinícius.
7. Quase Diário, da Gabriele.
8. Quem Se Importa, da Gi.
9.  Live in Doubts, da Paloma.
10. Reminiscência, da Paju.

São excelentes blogs, com trabalhos e temáticas diferentes. Recomendo todos eles. ^^

sábado, 18 de dezembro de 2010

Na Fórmula do Poetinha

Contemplar________________
Desejar___________________
Amar_____________________
Chorar____________________
Inspirar___________________
____________________Querer
____________________Ter
____________________Perder
____________________Sofrer
____________________Escrever

Beleza                         Tristeza
                  Samba 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amor, Pseudo-Amor

Se teu penetrante olhar almejo?
Os teus olhos eu nem mesmo vejo
E esses teus lábios que me entorpecem?
Dos meus, nem mesmo o toque conhecem

Dos nossos corpos que se enlouquecem
Verdade é que eles se desconhecem
Só finjo te fazer um gracejo
Desejo-te sem sentir desejo

Mero fruto de ingenuidade
Sempre rende-nos boas risadas
Dos que acreditam sim ser verdade
Essa nossa paixão inventada


Mas eu jamais te iludo, não minto
É sincero esse amor que não sinto

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Versos Devolutos

Disse um grande poeta com razão
Que pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Ou senão não se faz um samba não

De insolente falta de inspiração
Eu digo, essa é a causa com certeza
Já que despido de qualquer tristeza
Segue, do versador, o coração

Desvestido de todo o sentimento
Em seu desapego, sem seu amor
Sem medo de chorar, sem sofrimento.

Mas ainda que cause tanta dor
Eu prefiro o poético tormento
Do que tão insensível desamor

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Coração de Aticuruman

Quando fui lhe escrever esse poema, ele veio em partes. Fiz a primeira estrofe e lhe faltava a segunda. Fiz a segunda e faltava uma terceira. Fiz a terceira e pensei que lhe faltassem versos, mas enganei-me. Faltava-lhe um título; mas não um título qualquer. Um título que lhe descrevesse cada emoção, cada sentimento; que lhe descrevesse cada verso. Faltava-lhe então não apenas um título, faltava-lhe um coração. CORAÇÃO DE ATICURUMAN.


Deixaste verdes mares bravios
Partiste para as terras d'além mar
Onde, na solidão de solo luso
Vem saudades te encontrar

Carente de nativa terra tua
Frente à fria tela iluminada
Te privas da noite à luz da lua
Onde anseias pela pátria amada

Ainda que dissimules tal infelicidade
A tristeza o teu olhar exalta
A ti mesma tentas convencer, mas não esconde
Em teu coração sobra tanta falta

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

José Feliz Humano

José, feliz, humano
José, humano feliz
Feliz, José, por ser humano
Humano, José, por ser feliz

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Brincando de Machado Pt. III

            O bilhete dizia dezesseis horas, mas o sino não batera ainda as quinze e já estava eu pronto, angustiado, andando de um lado para o outro. Ainda me lembro, como se fosse hoje, daquela ânsia em vê-la, da minha inquietude – maldita seja! Mas não nos adiantemos; seria passar o carro na frente dos bois. Eu afrouxava e apertava novamente a gravata – devo tê-lo feito umas vinte vezes naquele intervalo –, olhava no espelho, penteava os bigodes, ajeitava o paletó; não adiantava muito, porém. Mesmo que eu repetidas vezes fizesse todo esse ritual, o relógio não parecia ser um bom amigo naquele momento; pouco mais do que vinte minutos haviam se passado.
            Se me visses ali, jamais me imaginarias um homem feito, graduado em renomada universidade de ciências contábeis. Verias, provavelmente, um garoto, que no auge da sua juventude, se apaixonara, vivendo seu primeiro amor. Ela não foi, claro, o primeiro amor que tive; fica sabendo, todavia, que eu me portava como tal.
            Talvez fosse melhor ir andando, pensei. Assim eu mataria o tempo e poderia, quem sabe, encontrar alguém no caminho e conversar um pouco; isso me distrairia dos ponteiros.
            O fiz. Saí de casa e fui, lentamente, caminhando até o cais e imaginando o tão esperado momento. Encontrei alguns conhecidos, trocamos algumas palavras, que provavelmente não te interessas em sabê-las, e nem eu em lembrá-las, se é que eu conseguiria fazê-lo, uma vez que em poucos segundos de prosa eu já me dispersava. Notei em alguns olhares desconfortáveis com minha falta de atenção, contudo, falar com eles não me era de grande importância.
            Faltava-me ainda um pouco de tempo até o encontro quando cheguei ao cais. Ainda que afoito, esperei. O que mais me restava fazer? Depois de algum tempo a vi. Caminhava lentamente, como se procurasse por mim. Observei-a por uns instantes antes de me aproximar. Fui até ela. Não me tinha visto ainda. Toquei com leveza seu ombro para que se virasse.
            – Receei que não viesses. – Disse-me quando virou para ver quem lhe tocara e me avistou. Então sorriu.
            – Hesitei por algumas vezes em fazê-lo. Temi que o bilhete não fosse teu, ou não fosse para mim.
            – Para quem mais haveria de ser? – Disse-me, ainda com sorriso nos lábios. – Isso não importa. Mas sim que vieste.
            Doces palavras. Ao ouvi-las, me fiz mais próximo de Anita e tomei suas mãos.
            – Não sabes como ansiei por esse encontro. Desde o dia que foste em casa levar o recado de teu pai que desejo encontrá-la.
            Sentiu-se bem em ouvir minhas palavras, demonstrou satisfação deveras. Confessou-me depois que há muito já me olhava com outros olhos. Quis dizer o mesmo a ela. Não pude, contudo. Sempre a vira como uma criança impertinente, que atrapalhava os assuntos quando eu, tentando tornar-me homem antes da hora, fingia entender os negócios de nossos pais. Mas agora os tempos eram outros, sua beleza e suas curvas me encantavam; se antes eu a tiver nas mãos, agora era ela quem me em suas próprias.
             Trocamos algumas palavras e carícias, nos declaramos, e por fim, num deleite, o tão sonhado beijo. Aproximou-se lentamente de mim e tocou, suavemente, os seus lábios nos meus. Senti-me atônito, nada mais pude fazer do que apreciar tão prazerosa sensação.
            – Tenho que ir agora. – Disse-me.
            Tentei impedi-la de fazê-lo, mas não pude. Havia dito ao pai que iria à feira e não se demoraria. Não podia ficar mais. Compreendi. Puxei-a para junto de mim novamente a fim de nos despedirmos. Tocou-me rosto com as mãos e falou-me:
            – Antes que eu me esqueça: não deves contar a ninguém sobre nosso encontro.
            – Por quê? - Indaguei.
            – Papai estava a arranjar-me um casamento por interesses políticos. Pode vexar-se. Dê-me tempo para convencê-lo de que não o farei. Logo estaremos juntos.
            Cheguei a mover os lábios a fim de contestá-la, dizer que tantos me consideravam um bom partido, seu pai não seria diferente, haveria era de contentar-se com a notícia. Antes, porém, que minha boca pudesse emitir qualquer palavra, calou-me com um beijo. Calar-me-ia e convencer-me-ia quantas vezes quisesse com aqueles lábios. Concordei. Ela partiu.  

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Selos.

Estou fazendo hoje o que eu deveria ter feito já há um certo tempo. Contudo, devido à necessidade de me dedicar aos estudos eu não tive como fazê-lo. A Gabriela, autora do blog ASAS DE MACACO (http://asasdemacaco.blogspot.com/), me indicou em seu post pelo Selo Blog Amigável.
Pela regra do "jogo", devo indicar mais dez blogs que eu acho que sejam dignos de selo e postar a foto do selo aqui ao lado se você for indicado.
Os blogs que indicarei a seguir são alguns dos que eu acompanho e acho as temáticas bastante interessantes.








Mais uma vez, obrigado, Gabriela! Sinto-me honrado por ter recebido o selo de você Sabes que aprecio sua escrita, sempre deixei claro. ^^

domingo, 5 de dezembro de 2010

Transtorno de Conduta pt. I

            Eu deveria me sentir culpado, ter remorso, ou qualquer tipo de arrependimento. Entretanto, não foi isso que aconteceu, muito pelo contrário, me sentia extasiado, até esboçava um sorriso nos lábios ao sentir aquele sangue quente escorrendo por entre meus dedos, ao ver aquele corpo desfalecer diante dos meus olhos, ainda suplicante. Sentia-me bem enquanto o via agonizar fazendo suas últimas preces – numa voz trêmula e aflita. Foi em vão. Antes que pudesse terminar de implorar por sua vida eu cravei a faca em seu peito; um golpe fatal.
            Com lágrimas no rosto e aquele olhar de desespero o corpo caiu diante dos meus pés. Lembro-me, como se fosse ontem. Uma cena que nem mesmo o tempo seria capaz de apagar.
            Jamais havia participado de um assalto. Nunca me deixavam ir junto. Diziam que eu ainda era novo demais para isso. Eu me detinha apenas a fazer alguns furtos; tinha que contribuir de alguma forma. Mas eles nunca me permitiam fazer nada que pudesse colocar minha vida em risco. Uma ironia, não? Logo na primeira vez eu fiz algo que eles jamais tiveram coragem de fazer, eu pude sentir o prazer de tirar uma vida com minhas próprias mãos.
            – Por que fez isso? Você é burro! – Gritou Fernando. – Ele nem reagiu. Por que você o matou?
            Apenas olhei para ele, não respondi. A sua boca se movimentava na minha frente, mas eu sequer ouvia seus gritos. Tudo parecia indiferente naquele momento. Não importava o que dissessem, ou gritassem. Nada do que fizessem ou pensassem poderia acabar com a magia daquele momento. Voltei meu olhar novamente para o cadáver e continuei contemplando aqueles olhos de desespero, agora vazios e inexpressivos; mortos.
            Ninguém ali seria capaz de compreender a magnitude daquele momento. Não o culpava, ele jamais deveria ter sentido algo assim. Ser acometido por aquela euforia, um sentimento de completa liberdade. Eu era capaz de ouvir o meu próprio coração, senti-lo pulsando. Meu corpo completamente arrepiado, um estado de êxtase, como se minha existência perpassasse meu próprio corpo, estivesse além; como se eu fosse detentor do poder de decidir entre a vida e a morte. Sentia-me mais próximo de Deus.
            As mãos de Fernando me agarraram pela gola da camiseta, depois me deu um tapa no rosto. Seus olhos estavam carregados de raiva e medo. Ele estava confuso, não sabia o que fazer diante daquela situação. Não sabia o que fazer comigo. Enquanto isso Anderson e Lucas – os outros dois companheiros – apenas observavam ao longe, sem dizer nada.
            – Você tem noção do que você fez? – Gritava Fernando, me segurando pela camiseta – Tem? Agora não é apenas mais um roubo igual essas pessoas já estavam acostumadas, isso foi um assassinato! Você sabe o que isso significa? Por sua culpa, agora a gente ta ferrado! A gente ta ferrado, você ta entendendo? E a culpa é sua!
            Ele estava furioso, mas mais do que isso, ele estava acometido de desespero. Parecia que tudo tinha fugido ao seu controle. Continuava gritando comigo, sem parar. Não tinha nem mesmo se dado conta que deveríamos sair dali antes que alguém pudesse entrar e ver aquela cena. Só se preocupava em vomitar em cima de mim a sua fúria, os seus medos.
            Eu continuei quieto, não disse uma única palavra. Mas acredito que meu olhar teria sido capaz de demonstrar o que eu realmente sentia se ele tivesse tido tempo ou intenção de compreendê-lo. Olhava-o com desprezo. Fernando estava tomando de mim aquele instante, privando-me dos meus sentimentos. Talvez tenha inveja de mim, pensei. Ele jamais fora corajoso o bastante para fazer aquilo. Eu era mais forte, e isso ele não poderia suportar. Senti raiva!
            – Chega, Fernando. Precisamos ir. – Disse Lucas, interrompendo-o. – É melhor a gente dar o fora daqui. Depois você termina com isso.
            Fernando recuperou a razão, voltou a si e me empurrou – foi um golpe forte, me derrubou no chão.
            – Vamos – Disse ele olhando para os dois que estavam parados; voltou o rosto para mim. – Depois a gente acerta isso.
            Eles saíram correndo. Levantei-me rapidamente e fui atrás deles. Eram as únicas pessoas que eu tinha afinal. Todavia, isso não era o suficiente para abrandar o ódio que eu passara a nutrir por Fernando depois de toda aquela humilhação. Não por ele ter me esbofeteado e me tratado como um inútil, isso não importava, sim por ele ter estragado aquele momento sublime, o momento que mudaria a minha vida.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Solidão

Vede essas lágrimas
Que se derramam dos olhos
Olha esse sangue
Que transborda o peito
Tamanha é a tristeza
Que cala, até mesmo, minhas palavras
Essas, vãs, dispersas e frias
Se fazem incapazes de expressar
Tão intensa melancolia

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Brincando de Machado Pt. II

            Ah, aquele sorriso! Emoldurado por aqueles róseos lábios e completo com os olhos que reluziam, negros, o brilho do sol. Vi-me aproximar dela e entrelaçá-la em meus braços. Ela, me olhando com certo espanto, mas sem resistir, tocou meu rosto com suas delicadas mãos. Fitei-a profundamente os olhos e vi sua face tornar-se próxima. Quando, quase pude sentir a sua boca tocando a minha, fui interrompido.
            - Onde vais tão distraído, Sr. Azevedo?
            Despertei-me naquele instante de meus devaneios. Olhei, ainda um pouco assustado, era o Sr. Augusto de Macedo, amigo antigo de meu pai, um velho, cabelos grisalhos repartidos ao meio, baixo e gordo, com um bigode que lhe alcançava os lábios. Me viu e veio falar-me. Contudo, leitor, não entrarei nos detalhes de nossa conversa, assim poupar-te-ei – e também a mim – de se angustiar com tamanho tédio.
            Despedi-me dele e voltei para casa. Fui até meu escritório, precisava retomar o trabalho. Peguei os papéis e os livros e os espalhei sobre a escrivaninha. Fui, todavia, incapaz de fazê-lo. Por bem mais de uma vez tive que repetir cálculos ou reler um mesmo trecho de algumas páginas; sempre terminava nas lembranças do tal sorriso.
            Decidi parar um pouco. De nada adiantaria continuar. Recostei-me na poltrona. Quase cochilava quando ouvi tocar a sineta da porta de entrada. Aguardei alguns segundos na esperança de que alguém pudesse atendê-la que não eu. Mas ouvi outra vez o tilintar da sineta. Então me levantei lentamente, me recompus do meu pré-sono e fui ver quem me tirava o sossego.
            Abri a porta; prontamente me arrependi da minha demora. Os olhos, que estavam antes ainda caídos pelo sono, agora se abriam para contemplar outra vez o brilho daquele olhar. Era Anita.
            - Boa tarde, Senhorita!
            - Boa tarde, Sr. Azevedo! Me pai pediu que lhe trouxesse os cadernos de contabilidade. Quis fazê-lo rapidamente, antes que o senhor desistisse. – Terminou a frase sorrindo.
            Sorri junto. Estendi a mão para pegá-lo, porém, toquei, sem querer, a dela. Continuamos assim por alguns instantes, as mãos sobrepostas e olhando um para o outro. Ela deixou que o objeto deslizasse por entre seus dedos e ficasse seguro entre os meus. Afastou sua mão da minha um pouco sem jeito, se despediu e partiu. Eu continuei ali, vendo-a se distanciar. Dessa vez ela não sorriu, nem olhou para trás. Talvez tenha se assustado, pensei. Mas fora apenas um acaso. Não era motivo para deixá-la vexada. Não havia razão para que eu me preocupasse.
            Voltei aos meus aposentos ainda sentindo aquele delicado toque em minha mão. Sentei-me de novo na poltrona; estava, porém, desperto demais para tentar retomar minha cesta. Resolvi continuar o trabalho – que eu sequer iniciara. Comecei, entretanto, não por aqueles que já estavam esparramados sobre a mesa. Abri aquele caderno verde que Anita me entregara. Não que aquele trabalho fosse mais importante; mas ela, sim, era.
            Comecei a folhear o material. Números, números e mais números. Contas de anos de trabalho. Precisava conferi-las todas antes de dar continuidade. Cada página que passava fazia-me aumentar o tédio. Fui, todavia, surpreendido com um pequeno pedaço de papel entre as folhas do caderno. Estava dobrado, eu não podia ver seu conteúdo. Minha moral pedia que eu o deixasse ali e ignorasse, mas quanto ela valia sobre o meu lado humano, sobre minha curiosidade se estávamos na sala somente eu ela? Ignorei-a completamente, tomei o papel nas mãos, desdobrei-o e li.
            “Encontre-me amanhã à tarde, às dezesseis horas, perto do cais.” Era o que estava escrito. Era uma letra arredondada, delicada, certamente de uma mulher. Estava, contudo, com pouco capricho, fora, provavelmente, escrito às pressas. Seria para mim? Seria de Anita? Pensei. Ansiava para que fosse. Mas que garantias eu tinha? Na havia nenhuma identificação. Mas haveria de ser dela. Quem mais poderia fazê-lo? E para quem? Sim, era certamente ela. Era melhor que eu pensasse assim.
            Comecei a fazer planos, imaginei encontrá-la, tomá-la nos braços e tornar real tudo aquilo que eu havia imaginado, tudo que eu havia sonhado. Quando já estava certo de que iria, pensei: mas e se for um bilhete para o senhor Moreira? Talvez seja de uma amante. Ele era velho e feio – a beleza da filha se devia toda à mãe, com certeza, que me fazia questionar algumas vezes o motivo de ser casada com tão feio homem –, mas tinha um bom dinheiro, não seria difícil arranjar uma rapariga que lhe encontrasse por interesses. Mas ele já estava velho demais para essas coisas. Não estava mais na idade de enamorar-se às escondidas. Não poderia ser isso. Era certamente de Anita.
            Lembrei-me então da reação dela ao partir. Ficara sem graça. Agora estava claro, o que lhe deixara envergonhada não foi o toque das mãos ao acaso, mas sim o propósito que a trouxera aqui. Foi isso, desde o início, que a deixara com aquele olhar tímido.
      Essa constatação me animou outra vez leitor, passei o dia todo esperando para encontrá-la. Acredito, contudo, que estejas mais interessado no encontro do que no que se passou comigo durante o resto daquele dia e o início do outro. Então me adiantarei em satisfazer tua curiosidade. Vamos direto ao encontro do bilhete.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sintonia

- Você pode me ver? - perguntou o garotinho quando sentiu o
leve toque sobre o seu ombro.
- Por que não poderia? - respondeu ela.
- Porque todos passam por mim como se eu não existisse...
- É porque você sempre se esconde.
- Não. Eu estou sempre aqui.
- Debaixo desta máscara.
- É apenas um sorriso.
- Mas não é seu.
- Você percebeu?
- Sim. Nós percebemos essas coisas.
- Os anjos?
- Os amigos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Aviso aos Leitores

                    Caros leitores, antes de tudo um muito obrigado por me acompanharem e me motivarem cada dia mais a ter vontade de escrever. As visitas nesse mês foram muitas. Fiquei muito feliz com isso. Obrigado!
                    Contudo, as provas se aproximam. O tempo agora me é curto. Ainda que não me falte vontade de escrever não conseguirei ser tão frequente quanto tenho sido nesses últimos dias. Tentarei fazer, ao menos, postagens semanais, mesmo nesse meu escasso tempo. É chegada a hora de priorizar os estudos.
                       Obrigado pela compreensão!
                       
                        Eduardo Cunha Vilela

sábado, 30 de outubro de 2010

Fragmentos Pt. III

- Você já fez alguma loucura por alguém?
- Quem nunca fez?
- Você faria uma loucura por mim?
- Não!
(Silêncio)
- Por você, nada seria loucura!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Brincando de Machado Pt. I

            Confesso, caro leitor, que fui devidamente influenciado pelo narrador machadiano. Ainda que essa angústia me corroesse por dentro e me tirasse o sono todas as noites, se eu não tivesse me deparado com as palavras de Bentinho, seus medos, vontades, ainda que sórdidas, e suas cismas, eu jamais me atreveria a contar aqui o que se segue.
            Entretanto, antes que continues lendo, eu alerto que ainda tens a opção de parar, de não conhecer a vil história desse narrador que vos fala. Tens por escolha deixá-la se perder no tempo e morrer antes mesmo que esse miserável a quem deste atenção até aqui.
            Se lês esta frase, leitor, é porque insistes em conhecer o meu lado mais escuro, os meus pensamentos mais desprezíveis, os meus mais sujos atos. Não posso impedir que o faças, mas lembra-te de que escolheste por si só, mesmo que por mais de uma vez eu o tentasse convencer do contrário.
            O ano era mil oitocentos e oitenta e nove, eu era de família bem de vida. Não éramos deveras ricos, mas papai contava com seus quase vinte escravos em sua pequena propriedade – ao menos até que assinassem aquela maldita lei. Não julguem-me ainda,  sempre fui à favor das causas abolicionistas. Admito, contudo, que não teria sido se pudesse saber o que me aconteceria poucos anos depois. Teria me vingado dos negros antes mesmo que tudo acontecesse, apenas para ter certeza de tê-los punido o suficiente pelas minhas dores. Esse, porém, é um assunto para mais tarde.
            O que deves saber do referido ano é que eu acabara de me formar, estudara as ciências contábeis. Como papai se encontrava doente e os escravos haviam sido libertos ficara difícil para que ele mantivesse os cuidados das finanças. Assumi os negócios. Tentei manter nossas dignidade e condição social tão boas quanto antes. Encontrei no começo algumas dificuldades, mas me saí bem. Conheci muita gente, velhos conhecidos de meu pai - fazendeiros, ex-senhores de escravos e também muitos comerciantes. Apesar de não termos, naquela época, muitas terras, papai era um ótimo negociador, sempre conseguia bons preços compradores de tudo que produzíamos.
            Fiz importantes amizades; mostrei-me um homem inteligente, culto e maduro, apesar de ainda jovem. Tinha tino para negócios. Era também bem-apessoado, como costumava dizer Dona Gertrudes - uma negra que desde sempre trabalhara para mamãe e continuara mesmo depois da abolição; era praticamente da família -, falava que não entendia um rapaz tão bem-apessoado como eu não ter ainda conseguido uma prenda. Talvez estivesse certa. Não tardou muito para os velhos amigos da família demonstrarem interesse em ver-me enamorado de suas filhas moças. Alguns deles chegavam a torcer os bigodes ao falar ao outro que sua própria filha era o melhor partido, apenas no intuito de me impressionar.
            Perdoem-me pela prolixidade. Detive-me a contar muito sobre mim e minhas histórias que esqueci-me de porque estou aqui e, principalmente, de porque estás aqui. Não queres saber da vida de trabalho desse que vos fala. Anseias por aquilo que até hoje escondi. Desejas penetrar à minha alma nos seus pontos de maior sordidez. Sei que não admitirás, leitor. Tua vontade de se fazer bom aos olhos dos outros é mais forte que tua curiosidade, ainda que essa última te consuma por dentro. Mas eu sei leitor, sou tão humano quanto tu. Tão hipócrita também.
            Vamos direto ao que realmente importa daquele ano. Foi numa tarde de primavera, mais precisamente o calendário contava os vinte e oito dias do mês de setembro. A filha de João Moreira, conhecido de meu pai de longa data -  que, sabendo que eu estava formado e fazia um bom trabalho com as finanças da família, a pediu que viesse ter a mim; precisava de meus serviços -, bateu na porta de casa. Gertrudes estava  ocupada ajudando mamãe em seus afazeres; fui eu mesmo atender ao chamado.
            Há muito não a via. Quando a conheci nem era moça ainda, brincava de bonecas. Confesso que espantei-me. Ela não era mais aquela menina com voz estridente que eu conhecera outrora. Era uma bela mulher. Tinha cabelos longos, castanhos escuros e ondulados, desciam abaixo dos ombros, a pele clara, mas queimada de sol, olhos negros, como uma pedra ônix, lábios carnudos, me hipnotizaram – tive vontade de senti-los junto aos meus. Precisou repetir mais de uma vez o que viera me dizer para que eu a compreendesse.
            Acredito que tenha percebido meu desconcerto, pois, depois de dizer-me o que lhe pedira o pai, já de costas para partir, virou o rosto em minha direção e sorriu.
            Aquela boca, aqueles olhos, aquele sorriso me tiraram a concentração pelo resto do dia. Imaginava-me tomando-a nos braços e trazendo-a junto a mim; ansiava por sentir o toque dos seus lábios. Lábios que me roubaram o sono; os mesmos que desejei durante toda a noite.
            No dia seguinte, nem bem amanhecera, saí. Fui até a casa de João Moreira. Fui falar-lhe pessoalmente sobre o trabalho que gostaria que eu fizesse. No caminho, parei. Tomei um café. Tive um dedo de prosa com alguns conhecidos e continuei. Não eram ainda nove horas e eu já estava lá. Bati à porta; fui atendido. Uma senhora negra, roliça, já com seus cinquenta e tantos anos, foi quem abriu. Era Zulmira, que assim como Gertrudes era para mamãe, ela era para a senhora Moreira, também como se fosse parte da família.
            - O Sr. Moreira está?
            - Está.
            - Poderia chamá-lo? Diga-lhe que é José de Azevedo, filho de Joaquim de Azevedo, seu velho conhecido. Vim falar-lhe sobre o serviço que sua filha foi-me requisitar ontem, em seu nome.
            - Pois só um momento, Sr. Azevedo.
           Ela entrou, foi balançando aquelas grandes ancas. Voltou em alguns momentos e disse-me que o senhor João me aguardava.
            Eu entrei e fui falar-lhe. Enquanto andava pelos cômodos e longos corredores procurei com os olhos, pela casa toda, por Anita, – sim, esse era o nome daquela que me roubara o sono – mas ela não estava. Senti-me desconfortável. Não tinha nada mais para dizer do que aquilo já pedira a filha que lhe dissesse. Tudo aquilo não passava de uma desculpa para poder vê-la novamente. Todavia, ela tinha ido à feira com a mãe. Demorar-se-iam um pouco, foi o que me disse o Sr. Moreira.
            Falei-lhe pouco. Não muito mais do que ele já sabia. Inventei um compromisso para não aceitar o café que me oferecera e quis partir. Levantei-me, despedi-me, peguei o chapéu e saí. Disse que voltaria outra hora para combinarmos o trabalho e o preço. Ele ficou agradecido com minha visita, falou que não esperava que eu fosse tão cedo até lá. Confessou ter sentido em mim bastante responsabilidade, que acreditava ter escolhido a pessoa ideal para o trabalho.
            Nessa hora me senti culpado. Não fosse sua filha ter ido me falar eu me demoraria pouco menos que uma semana para atender-lhe o chamado. Contudo, a culpa não durou muito. Aliás, durou poucos segundos. Desapareceu instantaneamente quando, saindo pelo portão, dei de cara a Sra. Moreira e Anita. Cumprimentei-as. A mãe foi gentil, mas a garota foi um pouco seca. Timidez, provavelmente. Penso isso porque, logo que conseguiu deixar que a mãe ficasse um só passo a frente, ela se virou e novamente me sorriu.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Confissões de um Pecador

Quero o que é funesto, o que é mórbido
Perco-me em pensamentos sórdidos
Tenho sede do sangue que nas veias corre
Do sangue que do corpo escorre
Encanta-me o que morre, o morto, a morte
A palidez fúnebre de um cadáver à própria sorte

Hoje me cobram um alto preço
Pago pelas minhas dívidas
Com não menos que minha própria vida
Mas sou produto do que me fizeram
Quando me rasgaram a carne, e me sangraram as vísceras
Roubaram minha alma, me assombraram a mente

Contudo, se riem hipócritas enquanto pereço
Aqueles que me criaram
Os mesmos que a mim condenaram
Tiram, tão vil e dolorosamente
Desse ingênuo povo inocente
Tantas vidas quanto esse pobre demente

Fragmentos Pt. II

- Você já amou alguém?
- Se nunca tivesse amado, talvez eu estivesse feliz agora...
- Você seria capaz de me amar?
- Não sei...
(Silêncio)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amar é...

            Me deparei hoje com a seguinte frase, escrita num travesseiro: “Amar é deixar que ela esquente os pés gelados em você”.
            Isso me fez pensar em todas as vezes que eu amei, ou, ao menos, pensei tê-lo feito. Não que eu não tenha sentido, muito pelo contrário. Senti – muito e fortemente. Um sentimento tão intenso e voraz que, por mais de uma vez, me levou a fazer loucuras. Mas isso não é amor. O amor não é esse sentimento avassalador que nos consome por dentro. Ele está nas pequenas coisas, nos menores detalhes. Está numa palavra não dita, mas sentida, em olhares cheios de significados, em sorrisos singelos, em momentos tão simples, como os daquela frase. Momentos que, para mim, quase sempre passaram despercebidos.
            Dizem que o amor dura para sempre e que, por mais que tempo passe, sempre haverá uma pequena chama que se arderá, nem que seja um pouco, quando se deparar novamente com a pessoa outrora amada. Porém, parece que, em mim, essas chamas sempre se apagaram. Nunca me peguei com um sorriso bobo por causa de uma lembrança, jamais senti vontade de voltar no tempo e reviver algo, tudo se tornou passado.
            Talvez eu nunca tenha vivido um amor. Talvez eu nunca tenha sabido amar. E por isso, todas as vezes que pensei tê-lo feito, eles chegaram a um final. Eram apenas paixões.
            Não sei se algum dia viverei um amor de fato, muitas pessoas passam a vida inteira sem tê-lo experienciado. Contudo, se eu vier a ser acometido desse sentimento, eu apenas espero  “Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure”.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Sonho

            Os dois dividiam a cama de casal - dormiam. Ela virada para o lado esquerdo e ele roncando do lado direito. De súbito, ela despertou. Tinha um sorriso no rosto e um brilho nos olhos como há muito não se via.
            - Amor? Disse ela sacudindo-o.
            Ele até ouviu, mas continuou quieto. Talvez ela desistisse.
            - Amor? Insistiu a esposa.
            - Hmm...
            - Amor, eu tive um sonho...
            - Que bom, querida. - Disse o marido, interrompendo-a – Agora me deixe voltar pro meu.
            - Mas amor, foi um sonho tão lindo! – Puxou-o para que ele virasse para ela.
            - Não pode deixar para me contar amanhã de manhã?
            - Mas é que eu fiquei tão eufórica!
            - Tá bom... O que foi?
            - Sonhei que estávamos casados, juntos...
            - Mas nós estamos, meu bem. – Interrompeu-a novamente.
            - Só que no sonho você me chamava de “minha” e me olhava como na primeira vez. – Disse tentando manter o sorriso apesar do semblante que ficara triste.
            - Que bonito, meu bem. Agora volte a dormir. Amanhã conversamos mais.
            Disse isso, beijou a esposa na testa, virou-se para o seu lado e logo voltou a roncar. Ela continuou lá, os olhos abertos, molhados.
            As horas se passaram e ele despertou. Virou-se para abraçá-la, porém, o lugar dela estava vazio.
            O marido se levantou e chamou:
            - Cadê meu amorzinho?
            Silêncio...
            - Querida?
            Ninguém respondeu.
            Confuso ele começou a procurá-la. Foi até o banheiro e nada. Andou pela casa e nem notícia. Voltou para o quarto e viu que as portas do guarda-roupas estavam abertas. O interior dele vazio, ou quase. Havia apenas um pedaço de papel, um bilhete. Tinha um escrito, um pouco borrado pelas lágrimas que nele pingaram, que dizia:
            “Amanhã de manhã pode ser tarde demais...”

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

(Des)Ilusão

Amo-te cada dia mais
Quero-te sem conhecer teu rosto
Desejo-te com tamanho gosto
Dos meus pensamentos não sais

Mas onde está tua presença
Senão na tua indiferença?

Que importância faz?
Meu mais puro sentimento
Minhas palavras, meu acalento
Já não te encantam mais

Onde estou eu, no entanto
Senão amargurado em meu próprio pranto?

Eu, que te amo só
Abandonado ao relento
O que sinto jogado ao vento
Como se fosse pó

De que adianta amar-te, oferecer-te o meu carinho
Se insistes em aqui deixar-me a amar sozinho?

domingo, 24 de outubro de 2010

Saudades

            Era uma tarde cinza, chovia e ventava muito. Ele veio correndo pela areia da praia; estava só, parecia aflito, desesperado. Ajoelhou-se e começou a procurar pelo pingente. O perdera naquela manhã. As suas lágrimas se misturavam às gotas de chuva que caíam em seu rosto. Tinha medo, muito medo. Ela dissera que o amaria enquanto ele guardasse aquela joia. Não queria perdê-la. Sequer conseguia pensar nisso. Não poderia tolerar aquela dor.
            Passou horas ali, debaixo daquela chuva. Seu corpo já estava pesado, quase não aguentava mais. Estava frio. O vento parecia cortar. Seu corpo coberto de areia, as mãos machucadas de tanto cavar. Mas nada daquilo lhe afligia. Continuou procurando. Porém, nada encontrou. Só lhe restava uma alternativa: o mar. Ainda que estivesse em fúria, com as ondas altas e fortes, não fazia diferença. Ignorou todos os riscos e se jogou nas águas. Desafiou aquele gigante. Tudo que importava era encontrar o pingente.
            Ele não voltou para a casa naquela tarde.
            Dias depois seu corpo foi encontrado. Trazia enrolado em uma das mãos o colar que carregava o pingente.

***

            Ela não suportava a solidão. Não tinha um único momento em que não pensasse nele. Não tinha um momento em que não sentisse a sua falta. Olhava para a praia e o imaginava correndo em sua direção, como sempre fazia. Lembrava-se daquele sorriso, que a encantara pela primeira vez no dia em que se conheceram. Sentia um nó na garganta e as lágrimas molhavam seu rosto. Ficava aflita, lhe doía o peito. Não importava quanto tempo passava, aquela dor só lhe consumia mais.
            Num dia, como aquele em que o perdeu, sentiu uma grande angústia e correu até a praia. Os gravetos e pedras do caminho feriram seus pés, mas ela sequer sentia. As frias gotas de chuva e o forte vento que quase a derrubavam não foram obstáculos. Precisava continuar, talvez ele estivesse lá.
            Correu por toda a areia, chamou por seu nome, gritou. Caiu de joelhos, em prantos, os olhos vermelhos de tanto chorar. Não aguentava mais aquele sentimento. Tinha um pingente, mas não a sua presença. Por que ele fizera aquilo? Ele sempre fora mais importante. A joia era apenas um símbolo do amor que ela sentia. Será que era tão difícil entender isso? Era ele quem importava. Era ele quem ela queria, quem ela amava.
            Mas isso já não fazia mais diferença... Tudo que sabia era que não poderia viver sem tê-lo a seu lado. Não entendia nem como tinha sobrevivido até aquele momento. Sobrevivido, claro, porque aquilo não era viver. Sem ele, a vida não tinha sentido. Sem ele, ela não tinha vida.
            Levantou a cabeça e olhou para o mar, fitou aquelas grandes ondas. Encarou-as. Talvez ele ainda estivesse perdido por lá. Ou talvez estivesse apenas esperando por ela. Era isso! Ele estava, com certeza, esperando por ela. Sem pensar, correu para as águas, na esperança de encontrá-lo novamente.
            Talvez tenha conseguido; daquele momento de delírio, ela nunca mais retornou.

Fim

Fragmentos Pt. I

- Qual é o seu nome?
- Que diferença isso faz?
- Para mim, faz muita.
- Por quê?
- Porque você parece triste.
- E o que isso tem a ver?
- É que eu nunca vi alguém mais triste do que eu.
- E isso te deixa feliz?
- Sim. Porque talvez eu possa te fazer sorrir.
(Silêncio)

sábado, 23 de outubro de 2010

Soneto do (Des)Paraíso

Pois ele sempre fora um homem santo
E vivera em prol do seu Deus louvado
Era, em nome Dele, objetivado
Conquistando, no céu, seu adianto

Porém, sua fé não resolvera tanto
O beato logo morreu. Pro espanto,
Seu corpo, lá no caixão esticado
E, como um anjo, ele fora velado

Consequetemente, não tardou muito
Para que todos daquela cidade
Beatificassem o tal presunto

Mas, em vão, todos os prazeres privados
Para, do morto, a infelicidade
Não existia nenhum outro lado

Indiferença

            Passava da meia-noite. O trânsito já não era tão intenso nas ruas, ouvia-se, em intervalos espaçados, o barulho dos carros. As luzes dos postes brilhavam solitárias, iluminando as calçadas vazias. Ninguém ia nem vinha. Dentro do prédio o porteiro cochilava em sua poltrona, os corredores permaneciam escuros, poucos eram os apartamentos do qual vinha algum som, e menos ainda eram as janelas iluminadas.
            Um tiro.
            As pessoas despertaram, as luzes se acenderam, portas se abriram. Os corredores ficaram movimentados, ecoavam vozes e passos. As sirenes quebravam o silêncio das ruas e os postes não estavam mais sós.
            Entretanto, ele continuava lá, deitado no chão da cobertura. Sob o céu estrelado, a luz da Lua iluminava seu rosto, seus olhos. Ele não se abalara com o estouro e não se incomodara com o alvoroço, parecia indiferente. Não lhe importavam as pessoas, não lhe importava o tudo ou o nada, não lhe importava a vida ou a morte. Apenas ficara ali.
            Os passos aumentavam, as falas se intensificavam e as sirenes se aproximavam. A calma dera lugar à dúvida, e a dúvida ao desespero.
            Num movimento brusco a porta às suas costas se abriu. Olhares assustado miraram-lhe. Pessoas correram na sua direção.
            Pela primeira vez lhe davam atenção, lhe questionavam sobre o que sentia, pela primeira vez lhe olhavam com alguma emoção. Pela primeira vez se sentira importante pra alguém. Tudo o que esperara durante toda sua vida acontecia naquele exato momento, mas agora era tarde demais.
            A arma que ele trazia nas mãos já havia feito e seu disparo, já sangrava-lhe o peito. O seu corpo tremia, ele sentia frio, suas vistas começavam a escurecer e suas forças se esvaíam. Porém, ainda que sentisse o sangue na garganta, ele esboçou um sorriso e com a voz fraca e trêmula pronunciou suas palavras finais:
            - A solidão, agora, já não dói mais...

Fim

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Soneto da Desesperança

Silencio na solidão do pranto
Onde, em vão, busco teu acalanto
Me feres com tuas palavras frias
Dos meus sentimentos desconfias

Por mais que ainda eu te queira tanto
E procure-te todos esses dias
Acometida do desencanto
Todo o meu amor tu repudias

Em confronto a minha sensatez
Teus olhos como se fossem meus
Fito por uma última vez

Os desvias em desconfiança
Então parto sem o teu adeus
Meu coração em desesperança

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Insensibilidade

Ainda que me sangrem as feridas
Insisto em derradeiro vício
Transbordam dos olhos o pranto
Acorrentado ao teu desencanto
Nas noites de um único sonho
Pesadelos de um só alguém
Contemplo-te com suplicantes olhos
Retribui-me com teu desdém
Me calo em meu desalento
A desesperança, o meu descontentamento

Maior que a dor de ver-te partir
Este coração que deixaste em pedaços
Do qual junto os estilhaços
Duvidas que ele outrora foi capaz de sentir

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Homem do Espelho

            Eram seis horas da manhã, ele acabara de abrir os olhos. Ficou alguns minutos olhando fixamente para o nada até criar ânimo para se levantar. Sentou-se, esticou os braços e se levantou. Foi até o banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes e voltou para o quarto. Cuidou para que não acordasse a mulher, que estava deitada na cama. Acendeu a luz do abajur, pegou suas roupas no guarda-roupas e se trocou. Vestiu-se com aquela desconfortável camisa que sempre usava no trabalho e aquela gravata apertada. Antes de sair fitou sua mulher com um olhar triste e, com o coração frio a beijou.
            – Eu te amo – disse ele.
            Ela nem mesmo o ouviu, mas ele tinha cumprido com sua obrigação.
            Ele desceu, comeu aquele mesmo pão que a empregada doméstica sempre comprava e preparava para ele da mesma forma todos os dias, tomou o seu café, – forte, com duas colheres de açúcar – como de costume. Pegou o paletó e as chaves do carro e saiu.
            Chegou no trabalho. Estavam lá seus colegas, dos quais muitos ele já não suportava ver. Não suportava as mesmas conversas e as mesmas falsidades. Não suportava mais o chefe, que tratava a ele e os outros com desprezo, mas a quem ele sempre devia responder com um sorriso amarelo e um “Está bem, senhor”.
            Trabalhou, fazendo aquele mesmo trabalho de sempre que ele nunca gostara, mas era o que ele tinha e o que o sustentava, aquele que propiciava a ele aquela vida cotidiana e rotineira. Não podia reclamar.
            Foi almoçar no restaurante de costume e fez um prato semelhante ao de todos os dias. Até mesmo o peso, visto na balança, variava pouco. Terminou de comer, tomou seu café, fumou um cigarro e voltou para a empresa, onde terminou o dia sorrindo, ainda que contrariado, para o chefe e os colegas de trabalho.
            Pouco antes das dezenove horas, depois de alguns minutos no trânsito, ele estava novamente em casa. Abriu a porta, pendurou o casaco e as chaves e avisou a mulher da sua chegada. Ela veio e sorriu para ele. Ele sorriu de volta, deu nela um abraço e beijou-lhe o rosto – pois ele sabia que era aquilo que ele devia fazer.
            Conversou com a esposa, jantou e assistiu um pouco de televisão. A mulher, como sempre, foi se deitar mais cedo e ele continuou lá por mais algum tempo. Desligou a TV, pegou o jornal que ficava sobre a mesa da sala e subiu as escadas. Ele gostava de ler as notícias no quarto, antes de dormir. Ligava o abajur e lia as tristes e trágicas notícias dos crimes de violência e na política, que serviam para alimentar ainda mais seus pesadelos.
            Ao fim das escadas ele tomou o corredor que levava ao quarto. Já estava tão acostumado com aquele caminho que nem precisava acender a luz para se guiar. Contudo, nesta vez ele teve que fazê-lo. Assim que chegou no andar de cima o jornal escorregou de suas mãos e caiu, espalhando algumas das folhas. Ele acendeu a luz e se agachou para poder juntá-las.
            Quando se levantou ele viu um espelho ao fundo do corredor, entretanto, não era sua imagem que ele refletia. Então ele se aproximou para ver mais de perto. Fitou o espelho e enxergou através do vidro não o seu reflexo, mas o de um velho decrépito. Um homem sem vontades, ambições ou sonhos.  Um velho, de quem o tempo já havia roubado o vigor e as esperanças, e que de tão conformado apenas viveu... sempre em função daqueles que estavam a sua volta, sempre em função dos outros. Um homem sem realizações, sem alegria e sem brilho.
            Viu então transbordar daqueles olhos e escorrer sobre aquela face uma lágrima. Uma lágrima que era realmente sua, que escorria daqueles olhos vazios e descrentes que eram de fato dele e que choravam o luto por aquele corpo e por aquela vida que eram, na verdade, os seus.



Fim