quarta-feira, 5 de junho de 2019

Insônia II

Desperto, desbrava a noite
Repousado sobre os lençóis
De apenas mais um dia comum
Numa luta que lhe consome
Senão o corpo, talvez a alma

Agarra-se à esperança
Aflige-se da invulnerabilidade
Que a noite contempla
Enquanto anseia pelo fechar dos olhos
Que jamais virá

Sente o clamor de suas entranhas
Mas não se vê capaz
De entregar-se tão vulneravelmente
Ao Tãnatos que à noite o espreita
Sem jamais tocá-lo

Busca, em vão, pelo homem de areia
Condenado a sonhar
Na vigília do pensamento
Sem que, na ternura da noite,
Se deleite no afago das plumas do adormecer

Como o morcego de Augusto dos Anjos
Que feio igual a um olho
Não há de se abater com qualquer ferrolho
Persistente, a consciência se mantém
Invadindo o quarto e o pensamento

Assim, por mais uma noite
Madrugada adentro
O corpo se desfalece
Mas resistem os olhos
Enquanto forte e imponente
Ela permanece

Dissonância Cognitiva

Olhar o passado
Vivenciar a amargura
Daquilo que nunca fui
Sentir falta do não vivido
Como se fosse assolado
Por uma grande perda
Do que jamais tive

Sonhos desfeitos pelo tempo
E também pelas más escolhas

Tempo, que agora nos cobra
Voraz, nos devora
Como se um piscar de olhos
Fosse suficiente
Para nos separar de nós mesmos
No desalento daquilo que poderia ser
Mas jamais será

De onde viria, porém, a sabedoria
Senão dos erros cometidos?

Comedidos? Nem um pouco
Na sede impulsiva
De uma juventude
Que jamais retornará
Um sonho perdido no passado
Apenas mais um entre tantos outros
Que um dia já deixei de sonhar

Mas não foram outrora os sonhos
Mais importantes que o porvir?

Sonhos de um coração inquieto
Que na ansiedade de satisfazer-se
Afogado na ilusão
De encontrar no passageiro
A eterna felicidade
Se fez cego diante das evidências
De uma escolha sem sentido

Mas onde haveria sentido
Que não na paixão de um coração juvenil?

Ora, de que valem as escolhas
Se não para afagar
A necessidade de se aventurar
Pelo infinito desconhecido?
O sentido da vida está na jornada
No propósito que a ela se dá
Ao encontrar a si mesmo no entrelaçar do tempo

Será o tempo, contudo, capaz de unir
As duas pontas da vida?

Até que chegue o momento
Quantos serão os sonhos
Sonhados em vão?
Estaremos nós abandonados
A mercê de um futuro
Que nos devora
Na incerteza do amanhã?

Uma única certeza nos acompanha
Desde o sacro ventre até o seio da terra
O tempo chegará
E, implacável, consumirá
Os sonhos
As incertezas
E a nós mesmos




terça-feira, 4 de junho de 2019

~Son(h)os Assimétricos

Sonho
Que se sonha
Em sono:
É sonho

Sonho
Que se sonha
Sem sono:
Insônia