quarta-feira, 5 de junho de 2019

Insônia II

Desperto, desbrava a noite
Repousado sobre os lençóis
De apenas mais um dia comum
Numa luta que lhe consome
Senão o corpo, talvez a alma

Agarra-se à esperança
Aflige-se da invulnerabilidade
Que a noite contempla
Enquanto anseia pelo fechar dos olhos
Que jamais virá

Sente o clamor de suas entranhas
Mas não se vê capaz
De entregar-se tão vulneravelmente
Ao Tãnatos que à noite o espreita
Sem jamais tocá-lo

Busca, em vão, pelo homem de areia
Condenado a sonhar
Na vigília do pensamento
Sem que, na ternura da noite,
Se deleite no afago das plumas do adormecer

Como o morcego de Augusto dos Anjos
Que feio igual a um olho
Não há de se abater com qualquer ferrolho
Persistente, a consciência se mantém
Invadindo o quarto e o pensamento

Assim, por mais uma noite
Madrugada adentro
O corpo se desfalece
Mas resistem os olhos
Enquanto forte e imponente
Ela permanece

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