sábado, 12 de junho de 2010

O Garotinho do Cubo

            Nascia, naquela pequena cidade, um garotinho. Um garotinho completamente estranho – ainda que todos que assim o chamavam não soubessem dizer por quê.
            Mesmo não sabendo dizer o que ele tinha de errado as pessoas não poderiam conviver com tamanha estranheza.
            Construíram pra ele um cubo. Um cubo de vidro. Um lugar feito somente pra ele, onde ele viveria toda a sua vida.
            Lá estava aquele garotinho, triste e solitário. Via todos à sua volta, mas não podia se aproximar de ninguém. Às vezes alguém olhava pra ele. Entretanto, nunca, nem uma pessoa sequer, lhe dava atenção. O menino continuava lá, sem saber por que aquilo acontecia com ele. O que ele havia feito de tão errado? Por que ninguém se aproximava dele? Fechava os olhos e sonhava em poder ser como as outras pessoas. Queria sair, brincar, conversar. Queria apenas ter um motivo pra sorrir. Mas, isso parecia ser pedir demais. Uma lágrima escorria de seus olhos e caía ao chão.
            - Por que você está chorando? – perguntou uma vozinha doce.
            Estava tão acostumado à sua solidão que simplesmente ignorou a pergunta. Afinal de contas aquilo não poderia ser com ele.
         -Por que você está chorando? – insistiu a vozinha, agora acompanhada de leves batidas na parede do cubo.
            Ele levantou seu rosto molhado de lágrimas e olhou com os olhos avermelhados em direção às batidas. Era uma garotinha. A figura mais angelical que ele já havia visto. Ela tinha longos cabelos escuros e uma pele tão clara que realçava o castanho escuro de seus olhos. Ele estava encantado. Ainda mais por que ela estava falando com ele. Era a primeira vez que alguém lhe dirigia a palavra.
            - Ei, você está me ouvindo? – perguntou ela, batendo um pouco mais forte.
            Ele não sabia o que dizer. Jamais alguém havia falado com ele. Somente enxugou o rosto, olhou para a garotinha e sorriu.
            - Por que está chorando? – indagou ela novamente.
            O garotinho queria responder. Porém, ele não sabia falar. Simplesmente sorriu outra vez.
Aquele sorriso foi o suficiente para que ela compreendesse que ele apenas se sentia só, e que a companhia dela fazia bem a ele. Então ela se sentou e ficou ali conversando com ele o dia todo. Tudo que ela dizia o garotinho respondia com um sorriso.
            Ele tinha vontade de tocá-la, senti-la. Tentou esticar as mãos para alcançá-la, mas tudo que pode tocar foi aquela fria barreira de vidro. E, nem mesmo aquela garotinha – que conhecia seus mais puros sentimentos – ousaria cruzá-la. Nem mesmo ela se atreveria a tanto. Ele teria que se contentar em ter somente sua imagem e sua voz.
            Ao cair da tarde a mãe da garota a viu lá. – sentada perto do cubo – Não podia deixá-la perto de um ser tão estranho. Correu até lá e a tomou nos braços.
            O sorriso no rosto do menino logo se desfez. Ele estava sozinho de novo. As lágrimas voltaram a escorrer sobre sua triste face. Ele ficou ali, esperando o tempo passar. Esperando a hora em que não fosse mais estar só. A hora em que não precisasse mais chorar. Então ele esperou, esperou e esperou. Até que não tivesse mais forças pra suportar.
            O garotinho partiu. Foi sem nunca ter tido a chance de mostrar que tudo o que ele tinha de estranho era a vontade de entregar seu solitário coração a alguém.


Fim

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