domingo, 24 de outubro de 2010

Saudades

            Era uma tarde cinza, chovia e ventava muito. Ele veio correndo pela areia da praia; estava só, parecia aflito, desesperado. Ajoelhou-se e começou a procurar pelo pingente. O perdera naquela manhã. As suas lágrimas se misturavam às gotas de chuva que caíam em seu rosto. Tinha medo, muito medo. Ela dissera que o amaria enquanto ele guardasse aquela joia. Não queria perdê-la. Sequer conseguia pensar nisso. Não poderia tolerar aquela dor.
            Passou horas ali, debaixo daquela chuva. Seu corpo já estava pesado, quase não aguentava mais. Estava frio. O vento parecia cortar. Seu corpo coberto de areia, as mãos machucadas de tanto cavar. Mas nada daquilo lhe afligia. Continuou procurando. Porém, nada encontrou. Só lhe restava uma alternativa: o mar. Ainda que estivesse em fúria, com as ondas altas e fortes, não fazia diferença. Ignorou todos os riscos e se jogou nas águas. Desafiou aquele gigante. Tudo que importava era encontrar o pingente.
            Ele não voltou para a casa naquela tarde.
            Dias depois seu corpo foi encontrado. Trazia enrolado em uma das mãos o colar que carregava o pingente.

***

            Ela não suportava a solidão. Não tinha um único momento em que não pensasse nele. Não tinha um momento em que não sentisse a sua falta. Olhava para a praia e o imaginava correndo em sua direção, como sempre fazia. Lembrava-se daquele sorriso, que a encantara pela primeira vez no dia em que se conheceram. Sentia um nó na garganta e as lágrimas molhavam seu rosto. Ficava aflita, lhe doía o peito. Não importava quanto tempo passava, aquela dor só lhe consumia mais.
            Num dia, como aquele em que o perdeu, sentiu uma grande angústia e correu até a praia. Os gravetos e pedras do caminho feriram seus pés, mas ela sequer sentia. As frias gotas de chuva e o forte vento que quase a derrubavam não foram obstáculos. Precisava continuar, talvez ele estivesse lá.
            Correu por toda a areia, chamou por seu nome, gritou. Caiu de joelhos, em prantos, os olhos vermelhos de tanto chorar. Não aguentava mais aquele sentimento. Tinha um pingente, mas não a sua presença. Por que ele fizera aquilo? Ele sempre fora mais importante. A joia era apenas um símbolo do amor que ela sentia. Será que era tão difícil entender isso? Era ele quem importava. Era ele quem ela queria, quem ela amava.
            Mas isso já não fazia mais diferença... Tudo que sabia era que não poderia viver sem tê-lo a seu lado. Não entendia nem como tinha sobrevivido até aquele momento. Sobrevivido, claro, porque aquilo não era viver. Sem ele, a vida não tinha sentido. Sem ele, ela não tinha vida.
            Levantou a cabeça e olhou para o mar, fitou aquelas grandes ondas. Encarou-as. Talvez ele ainda estivesse perdido por lá. Ou talvez estivesse apenas esperando por ela. Era isso! Ele estava, com certeza, esperando por ela. Sem pensar, correu para as águas, na esperança de encontrá-lo novamente.
            Talvez tenha conseguido; daquele momento de delírio, ela nunca mais retornou.

Fim

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