domingo, 26 de setembro de 2010

A Dama da Lua

            Era noite de inverno, madrugada fria. Seria possível ouvir o silêncio não fossem as águas que se faziam escutar ao tocar as pedras da margem e a leve brisa que soprava as folhas em seu farfalhar.
            Lá estava ele, sentado à orla, perdido em pensamentos, mergulhado em divagações. Vivia seus momentos de solidão. Observava, com um olhar distante, a Lua. E, assim como as águas molhavam dela o reflexo iluminado, as lágrimas molhavam dele o rosto.
            Olhou para ela. Um brilho prateado e rodeada de estrelas. Estava cheia. Por mais que ele não acreditasse, e poucas fossem as esperanças, ele desejou... Desejou não mais estar só.
            Tão de repente o silêncio se desfez. Por obras do destino ou do acaso ele ouviu uma doce voz lhe sussurrar aos ouvidos. Ele virou-se e a viu. Ela era linda. De uma beleza tão única que ele seria incapaz de descrever. Contudo, nenhuma de suas qualidades seria capaz de se comparar àquele olhar. Olhar que o fascinou, o encantou.
            Ela tocou-lhe o rosto. Ternas eram as carícias daquela delicada mão que o tocara. Ele a tomou em seus braços. Em resposta ela beijou-lhe a face e sorriu. Ele olhou-a nos – olhos que diziam mais do que quaisquer palavras. Ela então, lentamente, os fechou e tocou seus lábios nos dele.
            Sem dizer uma só palavra, ela se foi.
            A Lua havia atendido o seu pedido.
            No fim da noite ele foi incapaz de fechar os olhos. Desejava novamente vê-la, tomá-la em seus braços, beijá-la. Ainda que acordado, sonhou com ela. Ela roubava-lhe os sonhos e os pensamentos.
            No outro dia o sol nem havia se posto e lá estava ele, esperando – aflito – para vê-la.
            Caiu a noite. Outra vez a Lua brilhava cheia em meio ao céu estrelado. Ele estava só. Passavam-se os minutos e as horas. Pouco faltava para o amanhecer e ele continuava só. Ela não viria. Não fazia mais sentido esperar.
            Tomado pelo desespero e insensatez, ele maldisse a Lua, a mesma Lua que outrora atendera seus mais sinceros desejos.
            – Por que despertaste em mim sentimentos se me deixarias novamente afogar em solidão? Por que és tão vil? Por quê? Por quê...?
            Então ao longe ele a viu. Ela caminhava em sua direção. Das lágrimas se fez o sorriso.
            Ele correu para abraçá-la, mas ela tinha um olhar distante e frio. Não lhe disse uma palavra. Ele parou. Sorriu para ela e tentou tocar-lhe a face. Mas, logo que a alcançou, ela se foi. Seus dedos não tocaram nada senão o ar. O sorriso se fez pranto.
            Ele caiu de joelhos. De braços abertos para lua, um olhar de súplica. Queria ter a chance – nem que fosse pela última vez – de, ao menos, ouvir a sua voz.
            Contudo, de nada adiantaram as súplicas. Ele continuou lá – com seus olhos vermelhos e o rosto molhado – esperando, em vão, por aquilo que já havia chegado a um final.

Fim

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