quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Retrato

            Mudara-se para aquela casa há poucos dias. Uma casa antiga, de arquitetura rústica, porém bem construída e bem conservada. Contudo, ele sequer tivera tempo de desfrutá-la. Precisava terminar de organizar as suas coisas.
            Estava separando o que realmente usava daquilo que guardava por razões que ele mesmo desconhecia. Já tinha lhe rendido uma pilha de tranqueiras. 
            Lembrou-se de que havia um porão na casa. Talvez seja melhor guardar essas coisas lá embaixo, ocuparão menos espaço do que aqui em cima, pensou.
            Levantou-se - estava sentado no chão para encaixotar aquilo que levaria para baixo. Foi até a sala de entrada e pegou um molho de chaves que estava na fechadura. Caminhou até a porta do porão. Abriu. Acendeu a luz. Pegou a caixa com as coisas. Desceu.
            O lugar estava quase que completamente vazio, exceto por algo coberto por um pano branco. Ele não sabia o que era aquilo, mas tinha uma certeza: não era dele.
            Abaixou-se e pôs a caixa no chão. Andou até o objeto desconhecido  e puxou lentamente o pano, que escorregou, revelando um quadro. Era a pintura do rosto de uma linda mulher. A dona dos mais lindos olhos que ele jamais havia visto. Olhos que o hipnotizaram, deixaram-no atônito. Por um tempo que ele seria incapaz de contar, apenas contemplou com fascínio o tão belo olhar.
            Depois de um longo período despertou-se de seu transe; recobrou os sentidos. Subiu novamente as escadas. Precisava que terminar de arrumar as coisas. Mas concentra-se de que jeito? Aquela imagem simplesmente não lhe saía da cabeça. Quem era aquela mulher? Se perguntava. O que era aquilo que ele estava sentindo? Parecia loucura...
            Toda aquela explosão de emoções dominara seus pensamentos. Ele parou com tudo o que estava fazendo. Foi até o quarto e se deitou. Precisava refletir um pouco. Ficou lá, de costas na cama, olhando para aquele tento branco e pensando, tentando imaginar quem era ela, ou onde poderia encontrá-la.
            Perdeu-se em seus devaneios e, após alguns instantes, adormeceu. Sonhou... com ela.
            No sonho, a viu – estava tão linda quanto na pintura. Tomou-a pelas mãos e abraçou. Sentiu seu corpo junto ao dela. Tocou aquele rosto de pele macia e deslizou dedos lentamente até que pudesse sentir tão doces lábios. Aproximou sua face da dela e sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Fitou-a profundamente nos olhos. O silêncio. Quebrado por um beijo. Um beijo que jamais sairia da sua memória. Um beijo que marcara seu despertar.
            Estava confuso. Tentou adormecer novamente, voltar para aquele sonho. Foi em vão. Então ele desejou vê-la, tocá-la, ou, simplesmente contemplar, frente a frente, aquele fascinante olhar. Mas de que adiantaria? Não passava de um retrato...

Fim

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