domingo, 30 de janeiro de 2011

A Morte de um Poeta*

Penso,
Penso...
Procuro palavras,
Mas não encontro.
Sou agora um poeta calado.
E nada mais me resta senão o silêncio.
De que vale, contudo, um poeta silente, se sua dádiva são suas palavras?
Um poeta que perde palavras é como um homem que perde os sonhos, a razão de viver;
[é um poeta morto.


--
*O número de palavras de cada verso do texto segue uma série matemática, chamada de Série ou Número de Fibonacci.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Batidas Últimas

            Amanhecia. Ele já podia ver bem a cor branca do teto refletindo os primeiros raios de sol que penetravam as frestas da janela. Não pregara os olhos. Ouvira cada passo no corredor, cada chamado de emergência, cada prece, o incessante barulho de seu balão de oxigênio. Escutara cada ruído fraco da sua respiração, cada debilitado pulsar de seu peito. Eram assim todas as noites. Não havia mais volta. Ele sabia disso. Sempre soube. Desde o dia que o levaram pela primeira vez àquele hospital. Desde o dia que lhe entregaram a sua sentença.
            A morte, entretanto, nunca havia sido um problema. Bradava antigos cânticos, capítulos e versículos quando lhe perguntavam dela. Amparava-se em sua “inabalável” fé. Tinha a certeza de que a vida terrena nada era comparada à plenitude da eternidade. Ansiava por ela. Vivia por ela.
            Mas o que estava acontecendo? Por que começara a fraquejar? Por que sentia tanto medo? Por que aquilo que sempre lhe parecera uma recompensa agora lhe roubava o sono, lhe angustiava?
            Nas intermináveis noites em que suas únicas companhias eram seu travesseiro e seu balão de oxigênio, ele se lembrava de cada vez que fora com a família a um funeral. De cada morte que presenciara. De quantas vezes ouvira a costumeira frase: “Descansou”. A morte soava quase como uma dádiva! Diziam e, apesar dos olhares ainda tristes, se consolavam; chegavam a esboçar um leve sorriso nos cantos das bocas. “Foi melhor assim”; abraçavam, acompanhados dessas solidárias palavras, os parentes dos defuntos. Ele se acostumou com isso. Também as disse muitas vezes ao longo da vida; jamais hesitou.
            Todavia, se antes, aos seus olhos, a morte sempre parecera sedutora, até redentora, talvez; um estado sublime em que se poderia apreciar os verdadeiros deleites, agora o fim de cada dia lhe parecia uma tortura. Ele não queria mais descansar. Estava bem assim.
            A sua triste e amargurada vida lhe parecia, naquele momento, um mar de rosas. As dores eram a prova de que vivia. Todas as suas tragédias e tristezas tinham se tornado experiências. Os intermináveis dias se tornaram curtos. Cada segundo que passava era um passo adiante para seu próprio fim.
            Sua inabalável fé começara a ruir. Surgiram as dúvidas, os questionamentos, as incertezas: E se não houvesse um Deus? E se não houvesse nada além? Como poderiam ter tanta certeza? Quem poderia lhe garantir?
            Aquilo lhe consumia. Podia sentir em suas entranhas. Era o medo. Era a morte.
            Dia após dia, aumentavam-se as dores; aumentavam-se os sofrimentos. Mas a cada instante em que os sentia ele sorria. Sabia que poderiam ser os últimos. Então sentia-os com prazer; sentia-os com vida.
            Seus pensamentos e suas verdades haviam mudado. Como haviam mudado! Mas todo o resto permanecia igual. As angústias, as dúvidas, os medos, as noites insones só se intensificavam. O fim estava próximo; isso lhe matava ainda mais.
            Fora muito fácil ignorar a morte ou até mesmo idolatrá-la enquanto ela não havia lhe batido à porta.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Homenagem ao Malandro*

Cadê você, carioca?
O velho Francisco
Cheio de samba e amor
Que com açúcar e com afeto
Não fala de Maria apenas
Mas da morena de Angola
E das mulheres de Atenas

Cadê você, carioca?
O malandro
É tanta saudade
Do bom tempo
Da Banda
Do Nosso Bolero
O último blues

Cadê você, carioca?
Te queremos de volta ao samba
Com essa gente humilde
Imagina só
Nós todos juntos
Para umas e outras
Uma feijoada completa

Agora falando sério
De um tempo que passou
Só o que resta paratodos
São as cartas
Um chorinho
E um retrato em branco e preto

Mas apesar de você
Meu caro amigo
Andar meio sumido
Nós estamos aí
Nessa roda-viva
Até o fim

Deus lhe pague!

--
*Obs: esse textoesse texto, inclusive o título, foi construído em cima dos títulos das composições de um dos maiores músicos e compositores da MPB, Chico Buarque.

Arrependimento Em Rimas Pobres

Ele vai...
Não sabe aonde quer chegar
Não sabe onde vai terminar
Ele apenas vai...

Num destino que lhe persegue
Envolto eu seus medos
Sem ninguém pra confiar seus segredos
Mas ele segue

O tempo passa
Os sonhos perecem
As pessoas se esquecem
A vida passa

Tudo fica pra trás
O futuro vira passado
Está tudo acabado
Mas não é nada demais

Ele já não tem mais vontades
Já não tem mais idade
Já não tem mais verdade
Só o que resta... saudades

A vida é assim
Não adianta fugir
Não adianta fingir
Sempre chega a um fim

Selos



Recebi este selo da Kênnia, autora do Busílis, e da Amanda, autora do Mundo da Bebé. Ambos os blogs são excelentes. Acompanho sempre, apesar de estar um pouco desatualizado - fiquei um tempo sem internet e agora estou na reta final dos vestibulares. Mas recomendo a todos que leiam. Os textos são ótimos!
Obrigado pela indicação.

Agora, pelas regras, tenho que dizer dez coisas a meu respeito e fazer referência sobre a criação do blog, às postagens e às minhas inspirações; indicar quinze blogs aos prêmios e comunicar seus autores sobre a indicação do selo.

As dez coisas:

1 - Comecei esse blog em junho de 2010. Ele surgiu de uma brincadeira. Certa vez eu estava conversando com uma grande amiga ao telefone e ela disse que tinha sono e não conseguia dormir. Eu perguntei: "Você quer que eu conte uma história?". Lógico que na hora eu não consegui criar nada. Mas daí surgiu a ideia para "A Menina Que Não Tinha Nome" - que, aliás, tenho que terminar. Depois escrevi "O Garoto Que Não Sabia Amar" como presente a um amigo. Nasceu o Psicotizzando.

2 - Meus primeiros textos todos tinham as personagens principais como crianças. Isso se deve ao fato de estar influenciado por "O Mundo de Sofia" e "Alice No País Das Maravilhas". Esses textos são os que mais retratam meus sentimentos ou sentimentos vivenciados por pessoas próximas.

3 - O primeiro texto que escrevi sobre mim realmente no blog foi "O Menino e o Castelo". Eu tinha escrito uma pequena versão desse conto. Com um parágrafo apenas em 2007. Me lembrei dele e resolvi reestruturá-lo.

4 - Tem um texto que eu escrevi, "Asas do Tempo", do qual eu não gosto. Acho demasiadamente clichê. Sinto uma certa vergonha dele. Foi numa época de falta de inspiração.

5 - "Um Conto Alegre" foi escrito em resposta às pessoas que me cobravam que escreve textos alegres. Não consigo fazê-lo. Só consigo escrever em momentos de tristeza. Não combino muito com finais felizes.

6 - O primeiro texto que sai da formulazinha mágica de escrever com crianças como personagens principais é o "Do Mundo Como Ele É...", que escrevi depois de reler o Dom Casmurro.

7 - Meus primeiros poemas - ou quase isso - que são intitulados apenas com "..." eram apenas divagações de momentos de profunda tristeza. Eu os tinha postado numa comunidade que criei no orkut, da qual só eu participo - mas era essa mesmo a ideia, tanto que se chama "Sozinho no Lago". Foi, de certa forma, o embrião do blog.

8 - Durante um certo tempo eu tinha como parâmetro de comparação o meu poema "Anseios" e o meu conto "O Retrato", que segundo alguns amigos e antes de eu escrever o "Confissões de Um Pecador" (Poema) e o "Brincando de Machado Pt. I" (Conto), tinham sido os meus melhores textos. Apesar de o "A Morte Em Preto e Branco" ter recebido ótimas críticas.

9 - Dois textos bem singelos que eu fiz foram uns dos mais visitados do blog. Isso foi até engraçado. O "Sintonia" - diálogo curto que fiz como uma homenagem -  e o "José Feliz Humano" - proposta de uma brincadeira de uma comunidade do orkut.

10 - As minhas grandes influências na poesia são Vinicius de Moraes, Chico Buarque, mas - apesar de conhecer pouco - gosto também de Augusto dos Anjos. Na prosa a minha grande influência vem de Machado de Assis. As obras dele são simplesmente fantásticas. Contudo, eu sempre acabo sendo influenciado pelo que estou lendo. O "Transtorno de Conduta" começou à partir da leitura de "Entrevista Com o Vampiro" da Anne Rice.

Os quinze blogs:

Asas de Macaco, da Gabriela;
Motor Bombeante, da Raíssa;
Reminiscência, da Paju e da Joy;
Sangue e Solidão, do Douglas;
Alada e Colorida, da Isabela;
Live In Doubts, da Paloma;
Things of the Soul, da Thalita;
Solilóquios, da Karine;
Quase Diário, da Gabi;

São excelentes trabalhos. Recomendo.