Citações

O Morcego
(Augusto dos Anjos)


Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!





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O Viajante mais Ingênuo do Mundo
Momiji Sohma (Episódio 11, Fruits Basket)

Um ingênuo viajante estava em uma jornada.
Ele era tão ingênuo que era enganado muito facilmente pelos outros.
- "Por favor, dinheiro para remédios.”
Ele foi enganado pelos moradores de uma vila e perdeu suas roupas e sapatos.
- "Minha irmãzinha está doente...”
- "Não tenho dinheiro para comprar sementes para meu campo..."
Mas, como ele era ingênuo... Mesmo quando os moradores agradeciam a ele com mentiras dizendo "Você me salvou!”, ele acreditava...
E o viajante continuava dizendo "seja feliz! Seja feliz!" para todos.
No final, o viajante acabou sem roupas ficou muito envergonhado.
Então ele foi para dentro da densa floresta, para se esconder, mas ai...
Ele encontrou os monstros que viviam lá. Eles queriam comer o corpo do viajante...
Então começaram a enganá-lo com mentiras.
Claro que o viajante acreditou...
E deu para eles suas pernas e braços, um por um.
Acabou ficando apenas com a sua cabeça.
Até que então ele deu os seus olhos para o ultimo monstro.
Depois de comer os olhos do viajante, o monstro falou:
- "Obrigado, e como agradecimento eu vou te dar um presente." E deixou algo ali...
Mas era um pedaço de papel escrito "Ingênuo".
Mesmo assim o viajante começou a chorar dizendo:
- "Obrigado! Obrigado! Ninguém nunca me deu um presente antes! Estou feliz! Estou feliz! Obrigado! Obrigado!"
E começou a derramar lágrimas por onde estavam os seus olhos.
E então, o viajante... morreu logo depois.





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Soneto de Carnaval
(Vinicius de Moraes)

Distante o meu amor, se me afigura

O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo