sábado, 30 de outubro de 2010

Fragmentos Pt. III

- Você já fez alguma loucura por alguém?
- Quem nunca fez?
- Você faria uma loucura por mim?
- Não!
(Silêncio)
- Por você, nada seria loucura!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Brincando de Machado Pt. I

            Confesso, caro leitor, que fui devidamente influenciado pelo narrador machadiano. Ainda que essa angústia me corroesse por dentro e me tirasse o sono todas as noites, se eu não tivesse me deparado com as palavras de Bentinho, seus medos, vontades, ainda que sórdidas, e suas cismas, eu jamais me atreveria a contar aqui o que se segue.
            Entretanto, antes que continues lendo, eu alerto que ainda tens a opção de parar, de não conhecer a vil história desse narrador que vos fala. Tens por escolha deixá-la se perder no tempo e morrer antes mesmo que esse miserável a quem deste atenção até aqui.
            Se lês esta frase, leitor, é porque insistes em conhecer o meu lado mais escuro, os meus pensamentos mais desprezíveis, os meus mais sujos atos. Não posso impedir que o faças, mas lembra-te de que escolheste por si só, mesmo que por mais de uma vez eu o tentasse convencer do contrário.
            O ano era mil oitocentos e oitenta e nove, eu era de família bem de vida. Não éramos deveras ricos, mas papai contava com seus quase vinte escravos em sua pequena propriedade – ao menos até que assinassem aquela maldita lei. Não julguem-me ainda,  sempre fui à favor das causas abolicionistas. Admito, contudo, que não teria sido se pudesse saber o que me aconteceria poucos anos depois. Teria me vingado dos negros antes mesmo que tudo acontecesse, apenas para ter certeza de tê-los punido o suficiente pelas minhas dores. Esse, porém, é um assunto para mais tarde.
            O que deves saber do referido ano é que eu acabara de me formar, estudara as ciências contábeis. Como papai se encontrava doente e os escravos haviam sido libertos ficara difícil para que ele mantivesse os cuidados das finanças. Assumi os negócios. Tentei manter nossas dignidade e condição social tão boas quanto antes. Encontrei no começo algumas dificuldades, mas me saí bem. Conheci muita gente, velhos conhecidos de meu pai - fazendeiros, ex-senhores de escravos e também muitos comerciantes. Apesar de não termos, naquela época, muitas terras, papai era um ótimo negociador, sempre conseguia bons preços compradores de tudo que produzíamos.
            Fiz importantes amizades; mostrei-me um homem inteligente, culto e maduro, apesar de ainda jovem. Tinha tino para negócios. Era também bem-apessoado, como costumava dizer Dona Gertrudes - uma negra que desde sempre trabalhara para mamãe e continuara mesmo depois da abolição; era praticamente da família -, falava que não entendia um rapaz tão bem-apessoado como eu não ter ainda conseguido uma prenda. Talvez estivesse certa. Não tardou muito para os velhos amigos da família demonstrarem interesse em ver-me enamorado de suas filhas moças. Alguns deles chegavam a torcer os bigodes ao falar ao outro que sua própria filha era o melhor partido, apenas no intuito de me impressionar.
            Perdoem-me pela prolixidade. Detive-me a contar muito sobre mim e minhas histórias que esqueci-me de porque estou aqui e, principalmente, de porque estás aqui. Não queres saber da vida de trabalho desse que vos fala. Anseias por aquilo que até hoje escondi. Desejas penetrar à minha alma nos seus pontos de maior sordidez. Sei que não admitirás, leitor. Tua vontade de se fazer bom aos olhos dos outros é mais forte que tua curiosidade, ainda que essa última te consuma por dentro. Mas eu sei leitor, sou tão humano quanto tu. Tão hipócrita também.
            Vamos direto ao que realmente importa daquele ano. Foi numa tarde de primavera, mais precisamente o calendário contava os vinte e oito dias do mês de setembro. A filha de João Moreira, conhecido de meu pai de longa data -  que, sabendo que eu estava formado e fazia um bom trabalho com as finanças da família, a pediu que viesse ter a mim; precisava de meus serviços -, bateu na porta de casa. Gertrudes estava  ocupada ajudando mamãe em seus afazeres; fui eu mesmo atender ao chamado.
            Há muito não a via. Quando a conheci nem era moça ainda, brincava de bonecas. Confesso que espantei-me. Ela não era mais aquela menina com voz estridente que eu conhecera outrora. Era uma bela mulher. Tinha cabelos longos, castanhos escuros e ondulados, desciam abaixo dos ombros, a pele clara, mas queimada de sol, olhos negros, como uma pedra ônix, lábios carnudos, me hipnotizaram – tive vontade de senti-los junto aos meus. Precisou repetir mais de uma vez o que viera me dizer para que eu a compreendesse.
            Acredito que tenha percebido meu desconcerto, pois, depois de dizer-me o que lhe pedira o pai, já de costas para partir, virou o rosto em minha direção e sorriu.
            Aquela boca, aqueles olhos, aquele sorriso me tiraram a concentração pelo resto do dia. Imaginava-me tomando-a nos braços e trazendo-a junto a mim; ansiava por sentir o toque dos seus lábios. Lábios que me roubaram o sono; os mesmos que desejei durante toda a noite.
            No dia seguinte, nem bem amanhecera, saí. Fui até a casa de João Moreira. Fui falar-lhe pessoalmente sobre o trabalho que gostaria que eu fizesse. No caminho, parei. Tomei um café. Tive um dedo de prosa com alguns conhecidos e continuei. Não eram ainda nove horas e eu já estava lá. Bati à porta; fui atendido. Uma senhora negra, roliça, já com seus cinquenta e tantos anos, foi quem abriu. Era Zulmira, que assim como Gertrudes era para mamãe, ela era para a senhora Moreira, também como se fosse parte da família.
            - O Sr. Moreira está?
            - Está.
            - Poderia chamá-lo? Diga-lhe que é José de Azevedo, filho de Joaquim de Azevedo, seu velho conhecido. Vim falar-lhe sobre o serviço que sua filha foi-me requisitar ontem, em seu nome.
            - Pois só um momento, Sr. Azevedo.
           Ela entrou, foi balançando aquelas grandes ancas. Voltou em alguns momentos e disse-me que o senhor João me aguardava.
            Eu entrei e fui falar-lhe. Enquanto andava pelos cômodos e longos corredores procurei com os olhos, pela casa toda, por Anita, – sim, esse era o nome daquela que me roubara o sono – mas ela não estava. Senti-me desconfortável. Não tinha nada mais para dizer do que aquilo já pedira a filha que lhe dissesse. Tudo aquilo não passava de uma desculpa para poder vê-la novamente. Todavia, ela tinha ido à feira com a mãe. Demorar-se-iam um pouco, foi o que me disse o Sr. Moreira.
            Falei-lhe pouco. Não muito mais do que ele já sabia. Inventei um compromisso para não aceitar o café que me oferecera e quis partir. Levantei-me, despedi-me, peguei o chapéu e saí. Disse que voltaria outra hora para combinarmos o trabalho e o preço. Ele ficou agradecido com minha visita, falou que não esperava que eu fosse tão cedo até lá. Confessou ter sentido em mim bastante responsabilidade, que acreditava ter escolhido a pessoa ideal para o trabalho.
            Nessa hora me senti culpado. Não fosse sua filha ter ido me falar eu me demoraria pouco menos que uma semana para atender-lhe o chamado. Contudo, a culpa não durou muito. Aliás, durou poucos segundos. Desapareceu instantaneamente quando, saindo pelo portão, dei de cara a Sra. Moreira e Anita. Cumprimentei-as. A mãe foi gentil, mas a garota foi um pouco seca. Timidez, provavelmente. Penso isso porque, logo que conseguiu deixar que a mãe ficasse um só passo a frente, ela se virou e novamente me sorriu.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Confissões de um Pecador

Quero o que é funesto, o que é mórbido
Perco-me em pensamentos sórdidos
Tenho sede do sangue que nas veias corre
Do sangue que do corpo escorre
Encanta-me o que morre, o morto, a morte
A palidez fúnebre de um cadáver à própria sorte

Hoje me cobram um alto preço
Pago pelas minhas dívidas
Com não menos que minha própria vida
Mas sou produto do que me fizeram
Quando me rasgaram a carne, e me sangraram as vísceras
Roubaram minha alma, me assombraram a mente

Contudo, se riem hipócritas enquanto pereço
Aqueles que me criaram
Os mesmos que a mim condenaram
Tiram, tão vil e dolorosamente
Desse ingênuo povo inocente
Tantas vidas quanto esse pobre demente

Fragmentos Pt. II

- Você já amou alguém?
- Se nunca tivesse amado, talvez eu estivesse feliz agora...
- Você seria capaz de me amar?
- Não sei...
(Silêncio)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amar é...

            Me deparei hoje com a seguinte frase, escrita num travesseiro: “Amar é deixar que ela esquente os pés gelados em você”.
            Isso me fez pensar em todas as vezes que eu amei, ou, ao menos, pensei tê-lo feito. Não que eu não tenha sentido, muito pelo contrário. Senti – muito e fortemente. Um sentimento tão intenso e voraz que, por mais de uma vez, me levou a fazer loucuras. Mas isso não é amor. O amor não é esse sentimento avassalador que nos consome por dentro. Ele está nas pequenas coisas, nos menores detalhes. Está numa palavra não dita, mas sentida, em olhares cheios de significados, em sorrisos singelos, em momentos tão simples, como os daquela frase. Momentos que, para mim, quase sempre passaram despercebidos.
            Dizem que o amor dura para sempre e que, por mais que tempo passe, sempre haverá uma pequena chama que se arderá, nem que seja um pouco, quando se deparar novamente com a pessoa outrora amada. Porém, parece que, em mim, essas chamas sempre se apagaram. Nunca me peguei com um sorriso bobo por causa de uma lembrança, jamais senti vontade de voltar no tempo e reviver algo, tudo se tornou passado.
            Talvez eu nunca tenha vivido um amor. Talvez eu nunca tenha sabido amar. E por isso, todas as vezes que pensei tê-lo feito, eles chegaram a um final. Eram apenas paixões.
            Não sei se algum dia viverei um amor de fato, muitas pessoas passam a vida inteira sem tê-lo experienciado. Contudo, se eu vier a ser acometido desse sentimento, eu apenas espero  “Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure”.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Sonho

            Os dois dividiam a cama de casal - dormiam. Ela virada para o lado esquerdo e ele roncando do lado direito. De súbito, ela despertou. Tinha um sorriso no rosto e um brilho nos olhos como há muito não se via.
            - Amor? Disse ela sacudindo-o.
            Ele até ouviu, mas continuou quieto. Talvez ela desistisse.
            - Amor? Insistiu a esposa.
            - Hmm...
            - Amor, eu tive um sonho...
            - Que bom, querida. - Disse o marido, interrompendo-a – Agora me deixe voltar pro meu.
            - Mas amor, foi um sonho tão lindo! – Puxou-o para que ele virasse para ela.
            - Não pode deixar para me contar amanhã de manhã?
            - Mas é que eu fiquei tão eufórica!
            - Tá bom... O que foi?
            - Sonhei que estávamos casados, juntos...
            - Mas nós estamos, meu bem. – Interrompeu-a novamente.
            - Só que no sonho você me chamava de “minha” e me olhava como na primeira vez. – Disse tentando manter o sorriso apesar do semblante que ficara triste.
            - Que bonito, meu bem. Agora volte a dormir. Amanhã conversamos mais.
            Disse isso, beijou a esposa na testa, virou-se para o seu lado e logo voltou a roncar. Ela continuou lá, os olhos abertos, molhados.
            As horas se passaram e ele despertou. Virou-se para abraçá-la, porém, o lugar dela estava vazio.
            O marido se levantou e chamou:
            - Cadê meu amorzinho?
            Silêncio...
            - Querida?
            Ninguém respondeu.
            Confuso ele começou a procurá-la. Foi até o banheiro e nada. Andou pela casa e nem notícia. Voltou para o quarto e viu que as portas do guarda-roupas estavam abertas. O interior dele vazio, ou quase. Havia apenas um pedaço de papel, um bilhete. Tinha um escrito, um pouco borrado pelas lágrimas que nele pingaram, que dizia:
            “Amanhã de manhã pode ser tarde demais...”

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

(Des)Ilusão

Amo-te cada dia mais
Quero-te sem conhecer teu rosto
Desejo-te com tamanho gosto
Dos meus pensamentos não sais

Mas onde está tua presença
Senão na tua indiferença?

Que importância faz?
Meu mais puro sentimento
Minhas palavras, meu acalento
Já não te encantam mais

Onde estou eu, no entanto
Senão amargurado em meu próprio pranto?

Eu, que te amo só
Abandonado ao relento
O que sinto jogado ao vento
Como se fosse pó

De que adianta amar-te, oferecer-te o meu carinho
Se insistes em aqui deixar-me a amar sozinho?

domingo, 24 de outubro de 2010

Saudades

            Era uma tarde cinza, chovia e ventava muito. Ele veio correndo pela areia da praia; estava só, parecia aflito, desesperado. Ajoelhou-se e começou a procurar pelo pingente. O perdera naquela manhã. As suas lágrimas se misturavam às gotas de chuva que caíam em seu rosto. Tinha medo, muito medo. Ela dissera que o amaria enquanto ele guardasse aquela joia. Não queria perdê-la. Sequer conseguia pensar nisso. Não poderia tolerar aquela dor.
            Passou horas ali, debaixo daquela chuva. Seu corpo já estava pesado, quase não aguentava mais. Estava frio. O vento parecia cortar. Seu corpo coberto de areia, as mãos machucadas de tanto cavar. Mas nada daquilo lhe afligia. Continuou procurando. Porém, nada encontrou. Só lhe restava uma alternativa: o mar. Ainda que estivesse em fúria, com as ondas altas e fortes, não fazia diferença. Ignorou todos os riscos e se jogou nas águas. Desafiou aquele gigante. Tudo que importava era encontrar o pingente.
            Ele não voltou para a casa naquela tarde.
            Dias depois seu corpo foi encontrado. Trazia enrolado em uma das mãos o colar que carregava o pingente.

***

            Ela não suportava a solidão. Não tinha um único momento em que não pensasse nele. Não tinha um momento em que não sentisse a sua falta. Olhava para a praia e o imaginava correndo em sua direção, como sempre fazia. Lembrava-se daquele sorriso, que a encantara pela primeira vez no dia em que se conheceram. Sentia um nó na garganta e as lágrimas molhavam seu rosto. Ficava aflita, lhe doía o peito. Não importava quanto tempo passava, aquela dor só lhe consumia mais.
            Num dia, como aquele em que o perdeu, sentiu uma grande angústia e correu até a praia. Os gravetos e pedras do caminho feriram seus pés, mas ela sequer sentia. As frias gotas de chuva e o forte vento que quase a derrubavam não foram obstáculos. Precisava continuar, talvez ele estivesse lá.
            Correu por toda a areia, chamou por seu nome, gritou. Caiu de joelhos, em prantos, os olhos vermelhos de tanto chorar. Não aguentava mais aquele sentimento. Tinha um pingente, mas não a sua presença. Por que ele fizera aquilo? Ele sempre fora mais importante. A joia era apenas um símbolo do amor que ela sentia. Será que era tão difícil entender isso? Era ele quem importava. Era ele quem ela queria, quem ela amava.
            Mas isso já não fazia mais diferença... Tudo que sabia era que não poderia viver sem tê-lo a seu lado. Não entendia nem como tinha sobrevivido até aquele momento. Sobrevivido, claro, porque aquilo não era viver. Sem ele, a vida não tinha sentido. Sem ele, ela não tinha vida.
            Levantou a cabeça e olhou para o mar, fitou aquelas grandes ondas. Encarou-as. Talvez ele ainda estivesse perdido por lá. Ou talvez estivesse apenas esperando por ela. Era isso! Ele estava, com certeza, esperando por ela. Sem pensar, correu para as águas, na esperança de encontrá-lo novamente.
            Talvez tenha conseguido; daquele momento de delírio, ela nunca mais retornou.

Fim

Fragmentos Pt. I

- Qual é o seu nome?
- Que diferença isso faz?
- Para mim, faz muita.
- Por quê?
- Porque você parece triste.
- E o que isso tem a ver?
- É que eu nunca vi alguém mais triste do que eu.
- E isso te deixa feliz?
- Sim. Porque talvez eu possa te fazer sorrir.
(Silêncio)

sábado, 23 de outubro de 2010

Soneto do (Des)Paraíso

Pois ele sempre fora um homem santo
E vivera em prol do seu Deus louvado
Era, em nome Dele, objetivado
Conquistando, no céu, seu adianto

Porém, sua fé não resolvera tanto
O beato logo morreu. Pro espanto,
Seu corpo, lá no caixão esticado
E, como um anjo, ele fora velado

Consequetemente, não tardou muito
Para que todos daquela cidade
Beatificassem o tal presunto

Mas, em vão, todos os prazeres privados
Para, do morto, a infelicidade
Não existia nenhum outro lado

Indiferença

            Passava da meia-noite. O trânsito já não era tão intenso nas ruas, ouvia-se, em intervalos espaçados, o barulho dos carros. As luzes dos postes brilhavam solitárias, iluminando as calçadas vazias. Ninguém ia nem vinha. Dentro do prédio o porteiro cochilava em sua poltrona, os corredores permaneciam escuros, poucos eram os apartamentos do qual vinha algum som, e menos ainda eram as janelas iluminadas.
            Um tiro.
            As pessoas despertaram, as luzes se acenderam, portas se abriram. Os corredores ficaram movimentados, ecoavam vozes e passos. As sirenes quebravam o silêncio das ruas e os postes não estavam mais sós.
            Entretanto, ele continuava lá, deitado no chão da cobertura. Sob o céu estrelado, a luz da Lua iluminava seu rosto, seus olhos. Ele não se abalara com o estouro e não se incomodara com o alvoroço, parecia indiferente. Não lhe importavam as pessoas, não lhe importava o tudo ou o nada, não lhe importava a vida ou a morte. Apenas ficara ali.
            Os passos aumentavam, as falas se intensificavam e as sirenes se aproximavam. A calma dera lugar à dúvida, e a dúvida ao desespero.
            Num movimento brusco a porta às suas costas se abriu. Olhares assustado miraram-lhe. Pessoas correram na sua direção.
            Pela primeira vez lhe davam atenção, lhe questionavam sobre o que sentia, pela primeira vez lhe olhavam com alguma emoção. Pela primeira vez se sentira importante pra alguém. Tudo o que esperara durante toda sua vida acontecia naquele exato momento, mas agora era tarde demais.
            A arma que ele trazia nas mãos já havia feito e seu disparo, já sangrava-lhe o peito. O seu corpo tremia, ele sentia frio, suas vistas começavam a escurecer e suas forças se esvaíam. Porém, ainda que sentisse o sangue na garganta, ele esboçou um sorriso e com a voz fraca e trêmula pronunciou suas palavras finais:
            - A solidão, agora, já não dói mais...

Fim

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Soneto da Desesperança

Silencio na solidão do pranto
Onde, em vão, busco teu acalanto
Me feres com tuas palavras frias
Dos meus sentimentos desconfias

Por mais que ainda eu te queira tanto
E procure-te todos esses dias
Acometida do desencanto
Todo o meu amor tu repudias

Em confronto a minha sensatez
Teus olhos como se fossem meus
Fito por uma última vez

Os desvias em desconfiança
Então parto sem o teu adeus
Meu coração em desesperança

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Insensibilidade

Ainda que me sangrem as feridas
Insisto em derradeiro vício
Transbordam dos olhos o pranto
Acorrentado ao teu desencanto
Nas noites de um único sonho
Pesadelos de um só alguém
Contemplo-te com suplicantes olhos
Retribui-me com teu desdém
Me calo em meu desalento
A desesperança, o meu descontentamento

Maior que a dor de ver-te partir
Este coração que deixaste em pedaços
Do qual junto os estilhaços
Duvidas que ele outrora foi capaz de sentir